terça-feira, agosto 16, 2005

Mãe, com quem você era casada antes e qual era teu outro trabalho?


Às vezes a gente não tem a impressão de que uma reunião não vai terminar nunca mais? Quinta-feira foi um dia desses. Estava louca pra chegar em casa cedo, tomar um banho de banheira demorado, perfumado, pôr um vestidinho preto, sandália nova e me maquiar para ir ao coquetel de abertura de uma exposição de fotografias. Mas só consegui chegar em casa às 20:00h. Meu sogro já estava por lá, brincando com a minha filha Gabriela. Preparei rapidinho o quarto pra ele passar a noite e os meus preparativos para o coquetel acabaram sendo bem mais acelerados!

O André, meu marido, cozinhou umas espigas de milho para o jantar da Gabriela e de meu sogro. Pedi à Gabriela que me ajudasse a arrumar a mesa enquanto eu separava seu pijaminha. Ela pegou os pequenos garfinhos pra espetar a espiga - que ela tanto adora! - e quis saber quem foi que me deu aquilo. E quem foi mesmo que me deu os tais garfinhos? Ah, sim! foi o Guilherme, como presente no amigo secreto de R$1,99, na festa de Natal de 1998, na casa de nosso amigo Pedro. A Gabriela quis então saber quem é o Guilherme. Expliquei que era o ex-marido de minha amiga Mônica e ex-sócio do Dado, amigo de seu pai. A Gabriela então emendou a conversa querendo saber com quem eu era casada antes e qual era o meu o meu trabalho antes que eu fosse advogada. Como assim: com quem eu fui casada antes? E porquê perguntar qual foi o meu outro trabalho? De onde essa menina tira essas ideias? Ela não tem nem 4 anos!

Enquanto me arrumava e tomávamos uma taça de vinho, voltei a lembrar da festa de Natal em 98 e comentei com o André e o meu sogro como foi divertido. E naturalmente comecei a lembrar dos amigos que estavam por lá. À medida em que percorria meus registros lembrava dos nomes dos casais, do que cada um fazia naquele ano. E lentamente comecei a perceber que dos 8 casais que brindaram animados naquela comemoração, restamos apenas o André e eu casados. E então me dei conta de que de todas as pessoas que estavam na casa do meu amigo Pedro naquela noite, eu era a única, exclusivamente a única, que mantinha a mesma profissão, no mesmo escritório, na mesma sociedade, há 10 anos!

Subitamente entendi as perguntas da Gabriela e pude perceber que eram todas absolutamente naturais para quem já nasceu vivenciando, todos os dias, as pessoas à sua volta mudarem. Mudam de profissão, mudam de parceiros, mudam de cidade. Distraída em meus pensamentos voltei para a conversa justamente quando a Gabriela fazia perguntas ao avô sobre sua nova namorada e comentava sobre o atual namorado da avó. Ri sozinha ao perceber que a Gabriela faz parte de uma geração que tem avós que namoram! 30 anos atrás quem apresentaria para seus amiguinhos do jardim de infância o namorado da avó? Isso é novo. E é provavelmente positivo.

Já estava tarde e achei melhor acabar de me maquiar e abotoar a sandália no elevador. Beijei minha filha que ficou com meu sogro assistindo ao Discovery Kids e passamos pra pegar nossa amiga Vivi - que acaba de chegar de mudança do Rio de Janeiro para enfrentar uma nova profissão e hoje mora de aluguel no ex aparamento do Pedro, quem mudou-se para São Paulo, mudou de trabalho e de namorada. Fomos para o tal coquetel, vimos fotos maravilhosas de lugares distantes e acabamos a noite num restaurante interessante, tomando vinho e jogando conversa fora com um casal de amigos que em breve vai ter um filho. Sorte deles que poderão viver a experiência fantástica dos diálogos rotineiros com uma criança.

As balinhas de chocolate que vieram com o café expresso eu trouxe pra Gabriela, que dormia fundo quando a gente chegou em casa, às 02:00h da manhã. Ela fez uns barulhinhos. Acho que estava sonhando, processando informações. Por uns instantes refleti uma vez mais sobre todas as pessoas daquela festa de 1998 e sobre seus destinos e me senti diferente por ter o mesmo marido e o mesmo trabalho há 10 anos. E em seguida dormi relaxada, nos braços que eu adoro e já conheço tão bem, pra acordar cedo, jogar tênis e ir trabalhar.

Espero que os clientes da reunião das 11:00h não atrasem. Reuniões na hora do almoço ou do jantar parecem não acabar nunca mais.