"Mãe, você vai me amar pra sempre, até quando você for avó dos meus filhinhos?"
É incrível como
pegar o carro pra ir a qualquer lugar é um hábito (péssimo habito!) de quem
vive em Curitiba. Quando a gente viaja, pra qualquer canto, o natural é
justamente o oposto: caminhar o máximo possível, de um lugar pra outro ou sem
rumo, "flanando", olhando casas, jardins, vitrines, conversando ou
então curtindo os sons da cidade, quem sabe parando pra um café. E por que não
fazer isso em casa, rompendo o ciclo da locomoção em quatro rodas e “pernas pra que te quero”? E não estou
falando da caminhada pra se exercitar, pela ciclovia ou no parque, mas do
passeio a pé, por aí. Sei, sei... tem o tempo cinzento e a falta do novo, da
curiosidade por conhecer que motiva as caminhadas. Mas nem sempre é assim! Se a
gente prestar a atenção há provavelmente mais dias gostosos do que cinzentos e
a cidade é mais dinâmica do que parece das janelas do carro.
Então, no último
sábado de agosto, lindo e ensolarado, decretei o dia de fazer o necessário a
pé, levando minha filha Paula, de 4 anos, como minha companheira. E não foi uma
voltinha na quadra, não! Foi um passeio que durou mais de 2 horas e do jeitinho
que a gente faz quando viaja: parando pra ver um quintal bem cuidado, um ipê
que começa a florir ou catando uma florzinha do chão; decidindo comer um brownie ANTES do almoço numa
chocolateria nova (sim! há um monte de lugares novos no bairro que passam
despercebidos!); entrando em algumas lojinhas de rua pra comprar presentes pros
aniversariantes da semana (sim! há comércio bacana fora de shopping!); olhando
vitrines e lojas de decoração pra inspirar um quarto mais colorido pra Paula. E
no meio disso tudo, cantando de vez em quando, porque coisa deliciosa é
caminhar de mãos dadas com a filha e cantar.
O resultado foi
um percurso de uns 2km em que a Paula não reclamou NENHUMA vez de cansaço. Ela
adorou a experiência de explorar tudo a pé, parando onde dava vontade e me fazendo
companhia, tagarelando, contando novidades, perguntando... E tem jeito melhor
de conversar com uma criança do que passeando por aí, sem pressa nem rumo
exato? Tudo bem que nos trajetos de carro a gente também conversa. Mas a
atenção maior é para o trânsito, tem o rádio quase sempre ligado e o papo não é
de mãos dadas, olho no olho ou então olhando juntas pra mesma coisa que nos
encante. É uma proximidade diferente e só quando a gente experimenta é que se
pergunta por que demorou tanto a fazer!
O melhor de tudo
é que a sensação não foi só minha: a Paula voltou pra casa numa alegria imensa!
E olha que foi um passeio que não teve outras crianças, nem parquinho, jogo
eletrônico, nem shopping, cinema, teatrinho e nem mesmo um ambiente especial na
natureza, como mata ou mar. Foram só uns 10 ou 12 quarteirões, no nosso bairro
e no bairro vizinho, mas com a atenção voltada uma pra outra, sem horário pra
chegar a lugar algum.
A volta pra casa
foi alegre e surpreendente. A Paula não ligou a TV, não brincou no IPad, não
pediu um DVD. Ajudou a arrumar o quarto, a separar uns brinquedos e continuou
as conversas, tranquila. Mais tarde, me convidou para um lanche, de repente me
deu abraço bem gostoso e perguntou:
Compreendi que
esse era o jeito de uma figurinha de 4 anos expressar sua vontade de eternizar
o momento. Acho que nunca recebi uma declaração de amor tão espontânea em forma
de uma única pergunta! Então respondi com a mesma singeleza e verdade que
marcaram o nosso dia:
- "Sim, para sempre. Amor de mãe é
assim".
E alguém duvida?
Dormi especialmente
leve. E prometi a mim mesma ampliar a quantidade de momentos como este, em que
o simples prazer da companhia em passeios e caminhadas sem rumo certo seja o
bastante para preencher um dia. E se você é daqueles que gosta de caminhar, a
gente se vê, então, batendo pernas por aí.
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