segunda-feira, setembro 02, 2013

"Mãe, você vai me amar pra sempre, até quando você for avó dos meus filhinhos?"

É incrível como pegar o carro pra ir a qualquer lugar é um hábito (péssimo habito!) de quem vive em Curitiba. Quando a gente viaja, pra qualquer canto, o natural é justamente o oposto: caminhar o máximo possível, de um lugar pra outro ou sem rumo, "flanando", olhando casas, jardins, vitrines, conversando ou então curtindo os sons da cidade, quem sabe parando pra um café. E por que não fazer isso em casa, rompendo o ciclo da locomoção em quatro rodas e “pernas pra que te quero”? E não estou falando da caminhada pra se exercitar, pela ciclovia ou no parque, mas do passeio a pé, por aí. Sei, sei... tem o tempo cinzento e a falta do novo, da curiosidade por conhecer que motiva as caminhadas. Mas nem sempre é assim! Se a gente prestar a atenção há provavelmente mais dias gostosos do que cinzentos e a cidade é mais dinâmica do que parece das janelas do carro.

Então, no último sábado de agosto, lindo e ensolarado, decretei o dia de fazer o necessário a pé, levando minha filha Paula, de 4 anos, como minha companheira. E não foi uma voltinha na quadra, não! Foi um passeio que durou mais de 2 horas e do jeitinho que a gente faz quando viaja: parando pra ver um quintal bem cuidado, um ipê que começa a florir ou catando uma florzinha do chão; decidindo comer um brownie ANTES do almoço numa chocolateria nova (sim! há um monte de lugares novos no bairro que passam despercebidos!); entrando em algumas lojinhas de rua pra comprar presentes pros aniversariantes da semana (sim! há comércio bacana fora de shopping!); olhando vitrines e lojas de decoração pra inspirar um quarto mais colorido pra Paula. E no meio disso tudo, cantando de vez em quando, porque coisa deliciosa é caminhar de mãos dadas com a filha e cantar.

O resultado foi um percurso de uns 2km em que a Paula não reclamou NENHUMA vez de cansaço. Ela adorou a experiência de explorar tudo a pé, parando onde dava vontade e me fazendo companhia, tagarelando, contando novidades, perguntando... E tem jeito melhor de conversar com uma criança do que passeando por aí, sem pressa nem rumo exato? Tudo bem que nos trajetos de carro a gente também conversa. Mas a atenção maior é para o trânsito, tem o rádio quase sempre ligado e o papo não é de mãos dadas, olho no olho ou então olhando juntas pra mesma coisa que nos encante. É uma proximidade diferente e só quando a gente experimenta é que se pergunta por que demorou tanto a fazer!

O melhor de tudo é que a sensação não foi só minha: a Paula voltou pra casa numa alegria imensa! E olha que foi um passeio que não teve outras crianças, nem parquinho, jogo eletrônico, nem shopping, cinema, teatrinho e nem mesmo um ambiente especial na natureza, como mata ou mar. Foram só uns 10 ou 12 quarteirões, no nosso bairro e no bairro vizinho, mas com a atenção voltada uma pra outra, sem horário pra chegar a lugar algum.

A volta pra casa foi alegre e surpreendente. A Paula não ligou a TV, não brincou no IPad, não pediu um DVD. Ajudou a arrumar o quarto, a separar uns brinquedos e continuou as conversas, tranquila. Mais tarde, me convidou para um lanche, de repente me deu abraço bem gostoso e perguntou:

 "-Mãe, você vai me amar pra sempre, até quando você for avó dos meus filhinhos?"

Compreendi que esse era o jeito de uma figurinha de 4 anos expressar sua vontade de eternizar o momento. Acho que nunca recebi uma declaração de amor tão espontânea em forma de uma única pergunta! Então respondi com a mesma singeleza e verdade que marcaram o nosso dia:

- "Sim, para sempre. Amor de mãe é assim".

E alguém duvida?

Dormi especialmente leve. E prometi a mim mesma ampliar a quantidade de momentos como este, em que o simples prazer da companhia em passeios e caminhadas sem rumo certo seja o bastante para preencher um dia. E se você é daqueles que gosta de caminhar, a gente se vê, então, batendo pernas por aí.