quinta-feira, novembro 29, 2007

Feia, Velha e Estressada: eu??


A mãe, para uma pequena menina, é tudo o que há de bom e de melhor! A mamãe é cheirosa, divertida, seus cabelos são o máximo, não existe mulher mais maravilhosa no mundo. Arrumada para ir a uma festa, então: não tem nem pra Cinderela! Beijos, abraços, elogios que vêm do coração e inflam o ego de mãe, de mulher.

Mas uma dia, de repente, quando a pequena é ainda pequena, mas já tem enorme sensibilidade para perceber o mundo, a mãe vira velha, feia e estressada!

Comigo foi assim: numa semana só, tudo isso e de sopetão! Da primeira vez, estávamos no carro, a caminho de uma festinha e a Gabriela tentava ler a placa com o nome de um restaurante, em letras cursivas. Desistiu e perguntou:

“-Mamãe, o que é aqui”? “

“- O Scavollo – respondi - um restaurante”.

“ – E é bom?”

Respondi que não sabia, porque frequentava aquela pizzaria quando tinha uns 15 ou 16. Foi na orelha:

“ – Ah! Quando você era jovem!!”.

Não resisti: “- Como assim, Gabriela? Eu ainda sou jovem!”

E veio outra na orelha:

“ – Sinto ofender, mamãe, mas você já está mais pra mais velha do que pra jovem”.

Passou. Engoli essa com farinha.
Mas aí veio a segunda, também no carro. Brincávamos de associação. Uma dizia uma palavra e a outra rapidamente dizia a palavra que vinha na cabeça, em associação com o que tinha ouvido. E assim fomos: rato - queijo, praia - mar, escola-criança, advogada - computador. Mas nesse ponto a Lela me interrompeu:

“- Não mamãe, advogada – estresse”.

E neste fim de tarde eu estava mesmo tão estressada que não esbocei reação!

A última veio numa hora de almoço e começou com um comentário daqueles, em tom de pergunta, que nunca sei onde vão dar...

“ – Engraçado, né? Aqui em casa é tudo diferente, ao contrário, vocês não acham?.

Fui obrigada a perguntar:
“ – Como assim, Lelinha, diferente em quê?"

Ela foi direta:

“ – Diferente no pai e na mãe. Na casa dos meus amigos, normalmente o mais feio é o pai, que ou é careca ou usa bigode, é mais gordinho. E aqui em casa, o pai é o bonito! Não que você seja horrorosa, mamãe, mas pra linda também não dá... E o papai, se tivesse um concurso, ele seria o “miss pai”.

Espera aí! Ela só tem 6 anos e até antes de ontem mamava no meu peito, pulava no meu pescoço pra cheirar o meu perfume, ficava maravilhada com o novo corte de cabelo, os saltos altos, os banhos de espuma na banheira mais divertidos no que qualquer parque de diversões. E mais: eu só tenho 36 anos, continuo com meus menos de 50 quilos e...

Por quê, então, velha, feia e estressada numa só semana?
Baixei a rotação, absorvi todos os comentários e vieram as inevitáveis perguntas: Como é que eu me enxergo? Que imagem, de dentro de mim, vê a minha filha?
Então tudo ficou evidente. As crianças - ainda mais das sensíveis e espertas como é a Gabriela – podem ser mais realistas do que um espelho. Duras e cruas, é verdade, mas leem mais do que a imagem, porque leem sentimento, leem estado de espírito. E não têm bloqueio ou receio para falar o que veem, o que sentem e percebem ao seu redor.

Paro um pouco para refletir, com o distanciamento em relação a mim mesma, necessário para apenas olhar, sem julgar (ou pelo menos não muito). E na real, percebo que parei de praticar yoga, não tenho a paciência que deveria para ir ao salão dar um trato nos cabelos, passei o último ano trabalhando 2 dias da semana fora da cidade, acabei ficando muito magra e os banhos de banheira e brincadeiras de corda com a Gabriela já não são tão frequentes. E pensando bem, talvez aos 6 anos eu também julgasse velho alguém com 36 anos. Já o “miss pai”: ainda bem que isso Freud explica!

Amanhã volto a praticar yoga, decidi retomar uma rotina de curtições com a Gabriela durante o tempo em que temos juntas e hoje cortei os cabelos. Por fim, tomei coragem: marquei hora no terapeuta! Porque o relógio, já não dá pra parar, agora: bonita e de bem com a vida, fica mesmo mais fácil encarar que os 15 ou 16 anos já ficaram muito lá atrás. Mas que tem muito de bom no que é hoje e no que está ainda por vir!